De quem é a culpa?

A cultura judaico cristã deixou legados interessantes que governam nossa vida, e de quebra tornaram-se a base da estrutura ética da nossa sociedade. Entretanto, se há uma coisa que ficou mal resolvida – e gravada no inconsciente coletivo de muitos – é a famosa pergunta: quem é o culpado?

A história mundial diz que a primeira vilã foi a Eva, que teimosamente comeu o fruto proibido; depois teve o primeiro homicídio registrado, de irmão contra irmão, Caim contra Abel, daí mais um culpado. E assim a história se faz, distribuindo rótulos de “culpado” e “vítima” por aí, conforme o desenho da situação.

Mas efetivamente, na vida cotidiana, o resultado de algo muda com a descoberta do culpado? Semana passada vi uma cena curiosa: estava num jantar com uma garota linda de quatro anos ao meu lado, e ela cheia de energia brincava com o que tivesse à frente. Eu estava curtindo a brincadeira dela, e sem querer a menina bateu o cotovelo no saleiro de louça, que voou no chão e espatifou. Na hora, a mãe da menina, que estava ao lado, decretou: “olha o que você fez, você é a culpada, peça desculpas pro garçom”. Falou firme, sem colocar emoção demais, mas definiu a culpa.

O garçom veio com pá e vassoura, e antes de ele começar a menina declarou, também firme: “moço, fui eu que quebrei (sic), é minha culpa viu?” Cinco minutos depois nem rastro da situação, mas ficou no ar o “peso da culpa”.

Sem dúvida que é preciso corrigir atitudes inconvenientes, perigosas e que afetem o meio e as pessoas, até para que se estabeleça a educação. No entanto, me pergunto porque precisamos tanto procurar culpados e definir quem são as vítimas nas situações da sociedade, que são mais complexas e intrincadas do que o simples saleiro que vai ao chão.

O fato que importa reside mais no que fazer após a situação desagradável, o crime cometido, o fato consumado, do que o retorno a um passado que poucas vezes será claro o suficiente para definir um histórico de processos. Concluindo, fica um pouco da famosa frase, “você quer ser feliz ou quer ter razão?”.

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