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Mostrando postagens de agosto, 2010

Dizendo não sei

Outro dia encontrei uma pessoa que gosta muito de me encher de perguntas – e pouco fala de si mesma, sabe aquele tipinho? – e logo na primeira delas eu me permiti responder simplesmente "não sei". O "não sei" veio com a tranqüilidade de quem não sabia mesmo, nem lembrava; eu poderia até me torturar procurando a resposta em frações de segundo, mas não era hora ou local para isso. Posso até dizer que nem era pessoa para tanto trabalho, já que em muitas vezes ela só pergunta para especular, alimentar-se da informação do outro. E a frase veio sonora, clara, calma, com a sabedoria de quem não sabe e reconhece isso. Passados alguns dias voltei a usar o "não sei". Detalhe que no passado de anos eu não me permitiria dizer calmamente isso, já que tornou-se default saber tudo sempre; afinal, é mundo competitivo e ninguém quer ficar sem resposta. Entretanto, querer saber tudo pode revelar a fragilidade de quem não quer aprender com o outro e assim refestela-se no mu

O susto

Ele inventou uma moda meio besta, assustar pessoas. Meio besta porque ninguém efetivamente gosta de ser feito de tonto, mas talvez ele ainda não tenha percebido isso. Bobeira de garoto, né. Na hora deu vontade de socar, bater para extravasar a raiva. Mas, falando secretamente – como é secreto pensar sobre as deliciosas obscenidades da vida – se eu fizesse isso não iria me controlar e certamente acabaria enchendo este moleque atemporal de carinhos e afagos, porque a raiva é prima irmã das emoções calientes bem escondidas. Já imaginou se eu optasse por dar um tapa bem dado? Correria o risco de tentar consertar com beijos e não iria ser fácil controlar... O melhor a fazer naquela hora foi o que fiz: fiquei com a maior cara de desentendida, como quem não compreendeu nada e portanto, não conseguiu ser sensibilizada. Deixei o peralta crescidinho com a cara de pateta, e isso foi adorável. Depois é claro que a emoção saiu, a raiva veio molhada, até com direito a poemas e soluços. Eu poderia at

Beijo roubado é que é bom

Não sei muito bem descrever a cena: era num café que sempre freqüentava, e até já sabia o nome das atendentes. Nunca passei despercebida, principalmente porque gosto do contato com pessoas e assim o sorriso não sai da minha boca. Isso seguramente faz muitos rostos olharem com agrado. Daí que escolhi a mesa mais charmosa, pedi o café bem quentinho e sorri para mim mesma. Não demorou para eu perceber que sorrindo para mim na mesma direção estava alguém que viu o meu sorriso – e devolveu. Mas não ficou parado na mesa, veio ao meu encontro trazer o que eu tinha direcionado. Sentou sem fazer muitas perguntas, mas admirando o sorriso. Detalhe que ainda está metálico, fruto dos brackets que insistem em se mostrar, acho que eles tem síndrome de celebridade e pulam brilhantes sempre que eu falo. Nesta hora, parece que todos tiveram ataque fulminante de curiosidade e vieram ao encontro do novo interlocutor. Ele começou a contar sobre sorrisos, sorrindo também. Não lembro como a conversa engatou

Votar é preciso – sempre será sua escolha

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Estes dias ouvi diversas, muitas, inúmeras pessoas comentando sobre as eleições e concluindo com a frase “nem sei se vou votar”. As alegações são bem variadas – “meu título é do interior então faz tempo que só justifico”, “eu justifico porque é de domingo e isso atrapalha minha rotina”, “melhor não votar e depois pagar uma taxinha para não ser conivente com o sistema (sic)” e a mais contundente “eu acabo esquecendo e perco a hora (rsrsrs)”. O fato de os candidatos serem bons, ruins, milagrosos, pestes ou qualquer outra definição, sinceramente não importa. Eles são pessoas, tem ideias, e de certa forma correm o risco de rejeição de forma acentuada – já vi o candidato que recebeu só o próprio voto! – mas ao menos eles estão ativamente escolhendo o que desejam para o presente e o futuro. Bem diferente de quem ativamente escolhe passar ao largo do processo. Não votar não é apenas uma questão cívica – isso sem dúvida, porque parte do papel de cidadão é contribuir com a coletividade, e neste

As vinhas da ira - ou somente raiva

Ao filme talvez você tenha assistido – é um clássico. O livro retrata bem a miséria que vem do progresso durante o período que ficou conhecido como a Grande Depressão americana, uma fase que começou com a crise de 1929 e se estendeu pela década de 1930. Mas o nome do livro e do filme traz a ira. A raiva. A pobreza do Meio-Oeste americano é bem acentuada nas imagens do livro e sobretudo no filme, que é um primor principalmente por ter sido rodado com os recursos da época, que definitivamente não era moderna. O tom do filme é fiel ao livro, mostra o momento da obsolescência. Mexe profundamente, como acontece em geral nas situações que traduzem a dor, a raiva e a sensação de frustração, de impotência. Os personagens são forçados a sair de suas terras, pois, na simplicidade de seu campesinato, perdem o espaço para a modernidade, as colheitadeiras, e assim perdem seu sustento, seu alicerce. E sentem a raiva de serem postos de lado, substituídos por um sistema mais rentável. Sentem a dor de

Postura é tudo

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Em tempo de ética de menos e escândalo de mais, fica a pergunta que ouvi de uma cliente: qual a medida entre não aparecer (ser invisível) e virar “aparecidinha” (que nada tem a ver com Minha Linda Santinha, devo reforçar)? Vale pensar sobre como queremos aparecer. Fato é que o mundo atual é muito mais formado por imagens do que há cinqüenta anos. O que me reforça este conceito é justamente algo que no passado não havia e hoje há mancheias: velocidade de informação. Em poucos segundos temos uma fotografia, uma opinião sobre algo, um vaticínio. Depois de formado o pensamento sobre este algo ou alguém, fica muito difícil mudar. Daí, se eu apareci nestes poucos segundos de forma inadequada, como posso reverter – se é que é possível – este quadro? Saber como quero ser visto é fundamental para pensar em imagem, autoimagem. Isso vale para todos, mesmo quem não está na mídia mas tem a ambição de crescer profissionalmente, pessoalmente, afetivamente, como queira; julgamos muito pela aparência

Miguel Nicolelis e os US$ 2,5 milhões

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Esta semana foi divulgado o nome do pesquisador que irá receber o Director´s Pioneer Award, um dos prêmios mais esperados nos EUA, por ser outorgado pelos Institutos Nacionais de Saúde do país: Miguel Nicolelis. Miguel Nicolelis é brasileiro, e vive nos EUA há mais de duas décadas. Pesquisador eminente na área de neurociência, dedica-se a estudar mecanismos capazes de serem acionados por comandos cerebrais por pacientes tetraplégicos, dentre outros casos de lesões neurais. Ou seja, usar recursos eletromecânicos e cibernéticos para restaurar os comandos de um corpo perfeito, de uma mente perfeita. Estes US$ 2,5 milhões serão empregados nas pesquisas desenvolvidas na Universidade Duke, na Carolina do Norte, principalmente para o desenvolvimento de próteses comandadas por impulsos cerebrais. Já há muita pesquisa neste sentido em desenvolvimento, mas o comando natural ainda está por ser alcançado – e a verba será encaminhada neste sentido. O valor do prêmio é expressivo, no entanto, irri