E como será o seu amor?

Saudade é algo curioso, pois que comparo a um doce delicioso que deixa na boca um final por vezes ácido, amargo e até picante. Não é ruim, pode-se dizer que se assemelha aos adoçantes artificiais, pois só um pouquinho adoça o líquido ou o sólido, mas a seguir vem o sabor residual que lembra bem: “adoçante não é açúcar, meu bem”.

Açúcar bem dosado é doce, enfeita e enaltece o sabor das coisas. E saudade não é açúcar, definitivamente. E mel, seria uma saudade sem side effects?

Mel é todo próprio, e o Amor é também todo próprio, tão gostoso que se basta e prescinde de alimentos e bebidas para se misturar. Mel adoça sem saturar; amor de fato alegra sem cansar. Não é possessivo, deixa-se ser pleno, seja um, dois ou milhões. É só ele, infinito e incansável, pois não há quem se canse de amar, de tão bom que é.

Mel não cansa. Nem amarra a garganta.

Ninguém chora com doces, já reparou? Pelo contrário, os doces sabores fazem o oposto: sorrisos brotam fácil, fácil; risadas, contentamento, o ar matreiro de quem faz travessuras, tricks sutis. Adoçante até levanta a fisionomia e dá aquela enganadinha para que não se sinta falta do real sabor doce das coisas. E aí volta aquela saudade do real açúcar, do real amor, do sentimento que preenche e por vezes pede algo mais.

Algo mais que difere totalmente de ter mais e mais... quando se quer tudo e tudo mais, perde-se o ser, esgotam-se as energias daquele que interage no amar. E passa a ser não mais um, apenas uma sombrinha leve, uma imagem alquebrada detida em poder de outros, ou de um outro, pela rede mais forte que existe que é a posse, a privação da liberdade de outros ou de um outro, novamente.

Amor não tem posse.
Posse não tem amor, impede a liberdade e retém a energia da vida estagnada.

E a saudade é como uma doce agridoce lembrança, que vem e vai, fica, aumenta, diminui, mas está ali lembrando das coisas realmente doces que vieram e virão, e assim como o mel, adoçam tudo o que encontram, tudo onde passam e cobrem suavemente, mas com firmeza; ninguém ignora que o doce é mel, e o sabor pronunciado não deixa margem para dúvidas. É autêntico.

E é com muito mel que eu adoço o seu dia.

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