Amores, traições e atrações

A novela A Favorita teve a semana destacando o caos afetivo em dois enfoques: a traição corporal de Dedina com Damião (e o marido, Elias, pegou ambos no flagra, sendo que Elias é o melhor amigo de Damião...), e a traição de coração, mente e beijo de Copola e Irene, sendo ambos casados com outras pessoas que não os mesmos. O curioso da história do segundo casal é que ambos atores são casados e fazem parte do imaginário clássico da TV brasileira. Aqui, eles são amantes de um passado lindo que agora volta à tona.

O primeiro caso mostra uma traição baseada no mais visceral sentimento de atração, sexo puro. Damião encanta Dedina, e esta se encanta com a virilidade de Damião, que já não vê em Elias. Elias é puro coração e idealismo, sem espaços para o erotismo com Dedina, e ela o vê como um amor amigo. Assim, a atração por Damião ganhou espaço, terreno e uma providencial cama - e como os folhetins tem que culpar alguém, o fato aconteceu num lugar fácil para o flagra, a casa do amigo Damião.

E no caso, a trama trata de punir os culpados com a difusão do delito para toda a cidadezinha, e os habitantes ficam chocados com a “descaração”, colocando Elias no pódio da vítima que carrega a imagem do traído, oh, pobre.

No segundo caso a traição efetivamente física não ocorreu (ainda), mas considero que ela é muito mais forte, pois une corações que efetivamente se amam e se complementam, mas que por escolhas equivocadas de adolescência não aconteceram. Irene sempre amou Copola e ele a ela. Num momento encantado ambos trocaram confidências e beijos – e no caso do folhetim, este romance está com o futuro escrito: ambos irão sofrer com seus atuais pares, mas terão um amor pleno no fim da história, pois que não houve “delito”, e se baseia do sentimento do amor.

O senso comum “perdoa” os desencontros quando são amorosos, pautados no sentimento, mas reprova o que é permeado pelo erotismo, pelo tesão, pela atração. Mas o segundo caso tem muito erotismo, sutil no roçar dos lábios de Irene e Copola, no toque das mãos, e sugere muito mais do que isso.

Enxergo em ambos o prazer furtivo que permeia as relações afetivas, e só é digno de nota o fator traição porque ele ressuscita o sentimento de posse; o afeto é até genuíno, mas a baliza de reprovação está no que se aceita de posse. Não faço apologia de traições, entretanto questiono muito a culpabilidade das pessoas, até porque nesta cena não há culpados ou inocentes. Em muitos casos há um desgaste por diversas razões – o que abre a porta para a entrada do terceiro, do elemento externo.

A conclusão que fica é simples: se ama, cuida, seja pelo tesão ou por ser solução. Se ama, liberta e ficará somente pela força do amor. Se não ama, deixa e busca o que amará, e se dedica a este amor. Se não ama, liberte-se para encontrar o que ou quem o amará como merece. Só não vale permanecer estático e deixar o amor passar – para que a vida possa seguir seu rumo em sua plenitude para você.

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