A relatividade – III

Já reparou que sempre que a vontade de ir ao banheiro aperta significativamente – ou seja, dá o desespero – o sentido de tempo passa a ser diferente das situações que temos de esperar pacientemente para sermos atendidos, seja no médico, na fila do banco ou qualquer coisa que leva tempo?

Melhor conceito de tempo relativo que isso não há.

O sentido que temos de tempo, calor, frio, fome, sede e sono é totalmente medido pelo referencial que cada um de nós possui. Assim, o frio que me faz cobrir de malhas até o pescoço em nada afeta o garçom ucraniano que me atende no restaurante Penafidelense (adivinhou: fica em Penafiel, pois!). Para ele, frio mesmo era aquilo que sentia quando residia na terra natal, quando no inverno facilmente se chega a 20 negativos. Daí que dois graus dá pra sair cantarolando pelas ruas geladinhas da freguesia portuguesa.

Fome então, nem se fala.

Estou acostumada a comer pouco, mas em Portugal fica difícil resistir a tão lindos doces, salgados, pratos elaborados e mesmo os simples, sem falar na sopa fumegante de todo dia, a todo momento, “se calhar”... Ainda assim as porções são significativamente maiores do que me habituo a comer no dia a dia, e percebo que a medida que tenho de fome é menor do que os consumidores ao meu lado, que comem com pressa e em garfadas cheias. Eu, como estou de observadora, posso me dar ao luxo de manter o meu ritmo, ou seja, o meu referencial.

E quando falamos de distâncias a coisa fica engraçada; ontem caminhei um bom bocado, ao longo do dia. Ao comentar das minhas caminhadas gerei espanto em quem me ouviu, por conta do que se considera “longe”. “Nossa, andou tudo isso, a pé?”

A relatividade das coisas é interessante porque revela a cultura do observador, sua medida de intensidade, coisa que é tão individual que invalida todo e qualquer processo de aferir intensidades. O que pode ser mensurado numericamente, como a temperatura ou a distância métrica fica como referencial, mas o sentido disso em cada um é algo tão exclusivo que merece um carinho especial.

E para fechar a semana fica a pergunta: o que é relativo para você?

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