A relatividade – II

Tenho ido muito à Via Catarina, uma rua portuense de comércio com lojas charmosinhas, e um shopping Center pequeno e jeitoso. No caminho para o shopping sempre encontro um rapaz acompanhado de três cachorros com a placa “moramos na rua, pode nos ajudar?”

Nos dois primeiros dias fazia um sol lindo, principalmente quando o dia está bem frio. Ao lado dele havia mais uma mulher, assim como ele na faixa inferior aos trinta anos. E também pedia esmolas; não reparei se ambos ou somente um era bem sucedido na tarefa, mas não deixei de notar os cachorros.

No Brasil acontece até cena como essa, mas muito raramente. Ao invés de cachorros são crianças, e normalmente quem pede está bem mal vestido, maltrapilho até. E o argumento é a falta de emprego. Neste ponto, ambos jogam na mesma direção, brasileiros e portuenses. Entretanto, se fossem os cachorros, veríamos diferenças curiosas.

Aqui os cachorros são pequenos, mais “de madame”, e com um ar de quem se diverte com a cena. No Brasil são os de rua que mostram cruzamentos que os fizeram grandes a ponto de ninguém poder abrigar em casa; magros, por falta de quantidade que os sustente. E assustados, porque não tem quem os abrigue, ou acarinhe.

Há uma diferença considerável.

No entanto, em ambos casos costumo ver os pedintes com uma lente diferente: é fácil imaginar aquelas pessoas bem vestidas, produzindo, seja em ambientes administrativos ou quaisquer outros. Lá não estão por diversas razões, mas custo a acreditar que foi “pela culpa dos outros”, como tem sido tão fácil rotular.

Culpa de governo, da família, da sociedade, até de Deus, tem quem a Ele distribuir a culpa.

O que falta, em ambos casos, é a atitude de mudar, porque pedir é muito prático, principalmente à mercê da culpa que a sociedade carrega por seu capitalismo (algo que penso ser ridículo, mas explica tanta gente que se condói e dá dinheiro, como que para dirimir a culpa do dia). Salvo as exceções de quem tem limitações para produzir – e ainda assim estes produzem à maneira de não dependerem da caridade alheia – qualquer pessoa pode produzir, gerar renda e ser autônoma, sem ser refém da “bondade” dos outros.

Se os cachorros pudessem pedir, certamente iriam querer buscar suas caças, produzir do jeito deles, como a natureza assim os estimula dia a dia.

E nós, humanos, por que não optamos por seguir nossas naturezas, que são relativas, mas convergem a produzir mais e melhor para o bem estar de todos?

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