Mulheres "ricas"



Confesso que esperava um pouco do tal reality show, mas tenho percebido que dali tem saído bem mais do que imaginava. É óbvio que se trata de programa humorístico, com leves pitadas de filosofia do que o senso comum entende como riqueza e um tantinho de fofoca que tempera o quadro. Tenho me divertido vendo as sandices das participantes (ou seria melhor defini-las como personagens?), e numa noite de calor que afugenta o sono, ver o programa gravado ao menos descontrai.

É hilário ver a tentativa de mostrar um padrão de riqueza que parece rasgar dinheiro, viver bebendo champagne e com paranoia de segurança que só perde pontos para a busca pelo príncipe encantado (para algumas) e da vida sexual fervidíssima (para outras). Como diz a loira mulher rica mas jovem, “Deus perdoa”; como é para divertir e mostrar na TV vale exagerar nas tintas mesmo. O curioso foi o quanto o que elas fazem foi levado a sério pelas pessoas verdadeiramente ricas - que graças a Deus não são poucas neste país, oxalá tenhamos cada vez mais ricos para movimentar nossa economia! - a ponto de gerar comentários sobre o que os ricos de verdade fazem no cotidiano.

Bem, não é preciso ser rico para imaginar que muitos trabalharam duro para chegar ao patamar de suas fortunas. Há quem ainda demonize a riqueza e portanto atribui comportamentos antiéticos nesta conquista, mas sabemos que isso tem outro nome: inveja. Mesmo quem nasceu com uma fortuna no colchãozinho do beco teve que estudar e aprender a multiplicar o legado, ou ainda simplesmente manter o que herdou. Daí que ricos precisam manter a riqueza e trabalhar para que ela se perpetue. E isso parece simples para quem vive com o orçamento apertado, mas exige um bocado de intelecto.

Acompanho finanças pessoais de gente com poucos recursos e descontrole de gastos, assim como quem tem muitos recursos e descontrole de gastos. Nestes estudos sobre comportamento financeiro o que mais se repete entre os que sabem ser ricos é o padrão de riqueza prática: embora a pessoa ou família tenha muito dinheiro limites são algo estabelecido e perene. Lembro que Athina Onassis, rica de verdade, tinha uma verba mensal para gastos que não se diferenciava muito de algo como US$ 500 vivendo na Europa, onde o custo de vida costumava ser mais alto do que no Brasil (ah, veja só como as coisas mudaram!). Quando ela morou em São Paulo e assumiu o comando de seus negócios, calculava o orçamento das casas que possuíam, os custos de manutenção dos cavalos e criadagem, segurança e deslocamento a ponto de chegar à conclusão que ficar no Brasil custava caro demais – e voltou para a Bélgica. Sim, ela vem a SP para promover eventos e fazer um bom dinheirinho, ou seja, trabalhando...

Outra mulher rica por tradição e tudo o mais é a rainha Elizabeth. Sim, ela gasta bastante porque a “casa” é mais extensa e visada, sem falar no costume ancestral de querer a parentada toda junta (digamos que é uma versão diferenciada da "Grande Família"...), cuidando de cavalos, cachorros e escândalos, que toda família também tem. Mas a senhora se mantém ativa e forte comendo sucrilhos ingleses (da marca de lá, não sei o nome) e com um bom tanto de frugalidade. Certo que ela não precisa bater perna em shopping porque muito do que possui já veio dos ancestrais (imagine se ela tivesse a ideia de trocar a mobília, algo como os sofás, como muita gente classe média quer fazer a cada temporada!) e não usa griffe. Se a roupa for grifada, a equipe que a assiste corta e assim ela não faz propaganda de ninguém. Nunca foi vista rasgando dinheiro; recentemente aceitou naturalmente um corte nas verbas pessoais por conta do reequilíbrio das contas públicas, sem choro nem vela. Ah, nunca vi esta senhora bebendo champagne no cotidiano...

Ricas americanas – daqueles que fizeram a fortuna na América, vide Martha Stewart – também choram e muito para pechinchar e pedir um descontinho. Mas sabem sorrir para boas oportunidades, não ficam dormindo até a hora do almoço (vão para a academia e lá fazem networking também, por que não?). Mesmo com muita grana permanecem na ativa e cuidando ativamente de seus negócios, sem tempo para frivolidades e paranoias (ok, lá há terrorismo...). De resto, vivem com os problemas de qualquer mortal que independem de dinheiro e são existenciais.

Por tudo isso é que o programa da Band definitivamente não dá pra ser levado a sério, mas cumpre o que promete: divertir e fazer rolar boas risadas!

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