Miguel Nicolelis e os US$ 2,5 milhões

Esta semana foi divulgado o nome do pesquisador que irá receber o Director´s Pioneer Award, um dos prêmios mais esperados nos EUA, por ser outorgado pelos Institutos Nacionais de Saúde do país: Miguel Nicolelis.

Miguel Nicolelis é brasileiro, e vive nos EUA há mais de duas décadas.

Pesquisador eminente na área de neurociência, dedica-se a estudar mecanismos capazes de serem acionados por comandos cerebrais por pacientes tetraplégicos, dentre outros casos de lesões neurais. Ou seja, usar recursos eletromecânicos e cibernéticos para restaurar os comandos de um corpo perfeito, de uma mente perfeita.

Estes US$ 2,5 milhões serão empregados nas pesquisas desenvolvidas na Universidade Duke, na Carolina do Norte, principalmente para o desenvolvimento de próteses comandadas por impulsos cerebrais. Já há muita pesquisa neste sentido em desenvolvimento, mas o comando natural ainda está por ser alcançado – e a verba será encaminhada neste sentido.

O valor do prêmio é expressivo, no entanto, irrisório para atingir o objetivo da pesquisa. E irrisório comparado ao investimento bélico feito somente nos sete primeiros meses deste ano nos EUA.

O desenvolvimento de um míssil teleguiado com precisão máxima – margem de erro inferior a cinco centímetros do alvo – custa cinqüenta vezes este valor. Sugiro uma pequena troca: usamos a verba de Nicolelis para os mísseis já existentes serem desativados (pois isso custa muito, muito caro – pense no impacto ambiental e nos custos de manutenção desta bomba ambulante) e usamos o dinheiro dos mísseis para que Nicolelis e sua equipe atinjam mais rapidamente o objetivo.

É triste pensar que pesquisas capazes de trazer soluções para pessoas careçam de investimento – e daí somente um prêmio desta natureza pode destinar o recurso – enquanto estratégias bélicas são incentivadas e acontecem em velocidade muito superior ao desenvolvimento médico científico. Já poderíamos ter próteses comandadas eletroencefalicamente há tempos, se recursos tivessem sido melhor empregados.

Fico muito feliz que Nicolelis tenha sido reconhecido, junto com sua equipe, pelos esforços e trabalho inovador na pesquisa médico científica. Fico triste em perceber que a inovação para o bem humano precise de prêmios. E mais ainda em perceber que para aniquilar pessoas e a vida não há limite no uso dos recursos, principalmente financeiros. Para a extinção, vale tudo. Será que para a vida não vale nada?

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