Dizendo não sei

Outro dia encontrei uma pessoa que gosta muito de me encher de perguntas – e pouco fala de si mesma, sabe aquele tipinho? – e logo na primeira delas eu me permiti responder simplesmente "não sei".

O "não sei" veio com a tranqüilidade de quem não sabia mesmo, nem lembrava; eu poderia até me torturar procurando a resposta em frações de segundo, mas não era hora ou local para isso. Posso até dizer que nem era pessoa para tanto trabalho, já que em muitas vezes ela só pergunta para especular, alimentar-se da informação do outro. E a frase veio sonora, clara, calma, com a sabedoria de quem não sabe e reconhece isso.

Passados alguns dias voltei a usar o "não sei". Detalhe que no passado de anos eu não me permitiria dizer calmamente isso, já que tornou-se default saber tudo sempre; afinal, é mundo competitivo e ninguém quer ficar sem resposta. Entretanto, querer saber tudo pode revelar a fragilidade de quem não quer aprender com o outro e assim refestela-se no mundo de seus conhecimentos – um mundo estático, esperado, confortável e tedioso. Quem tudo sabe, porque tudo viu, de fato conhece seu ponto de vista, mas não compreende a dinâmica do todo.

Ter consciência de que não se sabe ajuda a abrir o caminho do conhecimento, principalmente vindo do externo. Há momentos que até sabemos do que se trata, mas posso dizer que faz bem ignorar algo para abrir a oportunidade da troca, do crescimento com as outras pessoas, e mesmo para corrigir eventuais erros de trajetória de nosso conhecimento pré estabelecido. É uma bondade e uma dádiva perceber que sabemos uma pequena parte, e muito ainda irá nos surpreender nesta caminhada.

Mas porque ainda há quem queira saber tudo, sobre tudo e todos, mesmo consciente que informação é vasta, incapaz de ser assimilada por um só? Sinto que é reflexo da insegurança do mundo, que tem sua raiz na inconsciência. A insegurança do próprio valor impede o reconhecimento do próprio limite, daí a fantasia de querer controlar tudo, saber tudo, entender tudo e posar de contemporâneo por esta atitude. É um cenário que pode encantar alguns, mas não terá sustentabilidade para uma vida de resultados eficazes, em todos os sentidos que compreendem viver bem.

Saber tudo, ter respostas para tudo e monopolizar a atenção revela empáfia. Estou além do horizonte, numa casta separada. Nela me refugio com meu saber completo – que esconde uma vontade tão grande de relaxar e entender o mundo com os olhos da criança que está totalmente aberta a aprender. Esta humildade de abrir a guarda, a mente e o coração é uma prova irrefutável de conhecimento, sabedoria, caridade.

Outra vantagem curiosa e interessante de não saber tudo é abrir o caminho para saber muito com quem se quer saber mais. Fui apresentada a pessoas também da área da comunicação, e fui clara ao relatar que não lembrava de um determinado conceito comentado. Simplesmente, naquele momento, não sabia. Um dos novos amigos prontificou-se a me enviar materiais atualizados sobre o tema, e da troca de informações surgiu uma forte amizade, com direito a muitas risadas e momentos de não sei mútuos, capazes de fazer ambos e os outros amigos crescerem, divertirem-se com as ideias, as palavras e as atitudes. E tudo começou com um “não sei”.

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