Beijo roubado é que é bom

Não sei muito bem descrever a cena: era num café que sempre freqüentava, e até já sabia o nome das atendentes. Nunca passei despercebida, principalmente porque gosto do contato com pessoas e assim o sorriso não sai da minha boca. Isso seguramente faz muitos rostos olharem com agrado.

Daí que escolhi a mesa mais charmosa, pedi o café bem quentinho e sorri para mim mesma. Não demorou para eu perceber que sorrindo para mim na mesma direção estava alguém que viu o meu sorriso – e devolveu. Mas não ficou parado na mesa, veio ao meu encontro trazer o que eu tinha direcionado.

Sentou sem fazer muitas perguntas, mas admirando o sorriso. Detalhe que ainda está metálico, fruto dos brackets que insistem em se mostrar, acho que eles tem síndrome de celebridade e pulam brilhantes sempre que eu falo. Nesta hora, parece que todos tiveram ataque fulminante de curiosidade e vieram ao encontro do novo interlocutor.

Ele começou a contar sobre sorrisos, sorrindo também. Não lembro como a conversa engatou – depois eu já ria de uma piadinha bem boba, daquelas que só tem graça na boca de crianças pequenas – e eu senti que o doce fluir das nossas vozes estava fazendo um bem mútuo. Ele ria, eu ria, e o café se transformou em vários, com direito a muitos risos.

O tempo passou mais ágil do que o esperado, e a minha rotina bateu na porta da agenda pedindo timing. Levantamos para ir embora, ainda rindo das conversas curiosas, pegamos as comandas, pagamos e rimos muito. Na saída eu percebi que não sabia nome, endereço, telefone, o que quer que fosse. E nem ele, quanto a mim.

Não foi nem uma fração de segundo para eu sentir um beijo roubado. Ele pegou minha mão, puxou para si e a beijou, longamente. O toque da mão firme me fez amolecer a minha, que sem entender direito ficou tão fina quanto poderia um dia ser, e aspirou pelos poros todo um carinho raro de se encontrar.

Quanto tempo durou? Segundos, talvez. Para mim o tempo parou, mudou a rota e a agenda relaxou.

Depois deste beijo roubado, eu só consegui sorrir. Ele sorriu, me disse um doce “obrigado”, e rumou para seu carro. Dali saiu e não nos vimos mais.

E nem precisaria, porque a mágica do beijo roubado tão discretamente que só nós dois percebemos não seria perfeita se mais palavras ou risos tivessem tido lugar. O charme estava no momento, no beijo que prescinde de palavras ou hiatos.

Beijo roubado doce, longo, atemporal e desconhecido é bom de ter. E que bom que foi comigo, será que pode ser com você?

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