O meu jeito de escrever

Outro dia, no grupo de criatividade literária ao qual pertenço, voltou a pergunta sobre o processo criativo. Digo que voltou porque há uns meses, quando o grupo começou, esta foi a primeira pergunta, quase como um quebra-gelo para assim começarmos os trabalhos. Digo que desde então os trabalhos vem sem pausas, produtivos, assertivos e instigantes.

Mas o meu jeito de escrever – que difere de um outro post, feito sob a minha verve escritora http://suyenmiranda.blogspot.com/2010/11/eu-escritora.html – é até simples, corriqueiro e banal. A ideia vem enquanto faço algo: corto os tomates para um molho, lavo a louça, resolvo limpar caprichadamente a janela de vidro da sacada (que pega muita poeira e denuncia facilmente as manchas do cotidiano). Em outros momentos menos caseiros a ideia também aparece, o personagem começa a ganhar corpo e uma trama vai se moldando por trás dele. Foi assim que criei uma protagonista (o nome fica em suspenso, para não estragar o desenvolvimento da história) inspirada em diversas amigas de academia, somadas a outras mulheres fortes em histórias televisivas e uma pitada de sitcom americana. Modéstia que não tenho, ficou jóia.

Outro dia eu tinha que criar a atividade para o grupo literário. Desta vez era a continuação do texto do Grande Líder e que eu e outra colega consideramos a segunda parte inferior à primeira. Grande Líder aproveitou a bola alta e rebateu: então façam uma continuação de acordo com o padrão de vocês, mas sem descaracterizar a história. OK, assim feito, assim será. E assim foi.

Para fazer este texto de continuidade optei por deixar uma proposta comercial em standby por alguns minutos – quarenta, para ser precisa – e fui brincando com um efeito surpresa capaz de revelar para a protagonista outros detalhes do homem pelo qual ela se apaixona, envolve e sofre (tal qual nosso Grande Líder criou). O escrever sobre a cena foi ficando estimulante, divertido, meio que thriller, meio que inesperado. Para terminar resolvi largar a nave voando sozinha, ou seja, o próprio texto trouxe seu fim, rimadinho como gosta de escrever nosso Grande Líder.

Meu processo de escrever, meu escrevinhamento, minha escrita e criação não são sofridos, pelo contrário, chegam a ser redentores. Já criei uma história enquanto aguardava atendimento num destes superlaboratórios de análises clínicas. Eu via na minha frente uma menina de cabelinho cacheado que estava ali mais porque a mãe não tinha com quem deixar, não porque precisava estar lá. Enérgica e dinâmica, admirava cada detalhe do ambiente, enquanto transpirava saúde, alegria e curiosidade de menina. Dela nasceu “Dias de Menina”, de tanto que olhava no espelho vendo os dentinhos, o sorriso esburacado, uma promessa de diva futura ali cheia de brotos de vaidade.

O bom de escrever é registrar estas viagens de vida. Criar vidas para quem não existe – talvez num universo paralelo, será? – e fazer destas vidas entretenimento para alguém. Pode ser que este alguém seja eu, ou ainda você. Fica o convite, vai lendo.

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