Saudosistas

Estes dias durante o carnaval conversei com diversas pessoas de diferentes origens e base cultural. Um ponto que notei em boa parte deles, e mais especificamente nas pessoas com mais de 30 anos foi o tom saudosista que se referiram não só ao carnaval, mas principalmente ao que a vida está sendo para eles. Algo como “coisas que o tempo leva”, “era muito feliz naquela época”, e assim por diante.

Um dos comentários que me acendeu o tema veio de um amigo que se referia ao céu de outrora como mais interessante do que o atual. “Eu via o céu à noite e sabia quais constelações, quais estrelas, coisas que meus filhos hoje não o fazem”, foi a frase que marcou. Lógico que automaticamente me lembrei da infância, também via o céu estrelado, mas veio a imagem da noite anterior, calorenta em São Paulo e repleta de estrelas mesmo nestes dias sem chuva, poluídos até.

Fato que o texto subliminar da fala dele era que hoje as crianças e mesmo adultos tem pouco tempo para olhar para o céu. O céu passou a ficar em segundo plano, depois da TV, do videogame e do computador – na minha infância, noite era tempo dos pais sentarem em frente às casas para conversar sobre o dia e a vida com os vizinhos, enquanto os filhos corriam na rua ou jogavam bola; havia TV mas a novela começava às 20 horas e terminava ainda às 21horas, ou seja, havia tempo para socializar antes do soninho – mas o céu ainda permanece ali, à nossa espera.

Hoje temos tudo, o que é excelente. Para muita gente, ter tudo significa um fardo, principalmente porque há a opção de escolha. Muitos de nós ainda tem dificuldade em definir claramente o que se quer. No passado, engolíamos muitas escolhas, aceitávamos o que viesse e somente em rebeldia quereríamos algo diferente do aceitado, acostumado. Hoje tudo é possível, basta fazer a escolha – e pagar por ela.

Saudades todos temos, porque é fato que pessoas e experiências ficaram lá. Entretanto, como dizia um rock dos anos 80, “the future is so bright I gotta wear shades”, ou seja, o futuro é tão brilhante que preciso de óculos escuros. Que o passado seja gostoso e romântico para nos ensinar a viver o presente também gostoso e romântico, mais cheio de escolhas para nossa felicidade!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Afinal, é para dizer “saúde” depois do espirro ou não?

Acomodação ou Acomodamento?

Parábolas de gestão empresarial – autor desconhecido