Ah estas palavras...

Até na Bíblia já se fala do poder das palavras - bem, é o livro da Palavra, portanto perdoe-me pela redundância pleonástica! - mas mesmo dois mil anos, ou ainda mais se contar o que o Carbono 14 conta, temos nestas doces expressões orais e escritas a cura e o veneno juntos e misturados.

"Ah mas eu falei sem pensar...", é uma desculpa comum, mas não deixa de ser desculpa (origem da palavra: des-culpar, tirar a culpa) e não tem o poder mágico das teclas Ctrl + Z que apaga um a um erro digitado sem deixar vestígios. A palavra, ah esta danada não tem volta... saiu, foi dar um rolê pelo universo e poderá ali para sempre estar se for eternizada no doce universo da Internet. É a frase que alguém falou, escreveu e virou um link compartilhado por tanta gente que se torna impossível controlar, tirar, eliminar. Pode ser que depois da frase (mal)dita outras tantas maravilhosas tenham sido proferidas, largadas docemente aos ouvidos de tantos, mas é a danada que se lembra quando falam "lembra quando Fulano/a falou isso?". 

"Saiu num repente". Esta constatação é perfeita, as palavras brotaram num ato falho, saíram como os filhos que batem a porta sem dizer para onde vão (ou disseram mas o ouvido seletivo selecionou bem para não escutar), e te deixam de cabelos em pé. "O que ele/ela quis dizer?", "Por que?", "Como assim, queridos?". Quando saem pensadas ou sentidas do fundo da alma, que é a inteligência mais pura e divina, são música de amorosidade, de gratidão mesmo que duras e necessárias. Auxiliam a renovar, a esclarecer num encantamento capaz de milagres. 

Podemos falar sem pensar quando falamos do sentir, desta inteligência já citada que vem da essência divina que cada um carrega. Duro é quando o jorro de palavras vem do Ego, o monstro castrador da sua pureza de sabedoria que usa uma capa de proteção cheia de furos que de nada vale, porém se justificando por existir. É o Ego que quer a letra maiúscula, que quer a desculpa, a retratação e se ofende por qualquer coisa, afinal é para isso que ele existe. O Ego separa, e neste trabalho usa como poucos o dom da palavra (im)pensada.

Crianças tem o dom de falar o que vai em suas almas, daí que não se arrependem do que dizem. Sai o que é verdadeiro, crítico ou amoroso, elogioso ou cômico. É a sabedoria nível master que com o tempo dá poder ao resto, e esquece de si.

Que as palavras sejam mais doces mesmo no cenário inóspito com sabor de banana verde que amarra a boca - pois que uma boca amarrada pode evitar que dela saia uma mosca de ferrão; que as palavras sejam alívio e não condenação. Que estimulem ação e não reação.

Sábias palavras!

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