De cabeça quente

O lado divertido de ver jogos da Copa do Mundo é que devido ao alto grau de pressão muita energia escondida acaba por transparecer. Este fim de semana mostrou que quando a barra pesa, a resposta salta as barreiras do controle e sai, direta como uma flecha. Dunga e Kaká mostraram bem isso.

Imagine você estar com o mesmo grau de pressão que os membros da seleção tem carregado nos últimos tempos – e ainda vão ter mais, esperamos. Eles também esperam, e por isso mesmo controlam ao máximo o que falam e expressam. No entanto, todos temos um limiar que pode ser atravessado, conforme o cenário de estresse.

Ouvir xingamentos quando são aleatórios – ou seja, valeriam para qualquer um, não necessariamente nós – dói bem pouco. É como aquela moça de cabelos castanhos escuros que ouve “lôraburra”, e certamente vai dar de ombros, afinal não foi com ela, especificamente. Agora, quando a grita é direcionada para quem somos, tudo muda...

Dunga parece ter xingado – ou ao menos as câmeras filmaram movimentos de lábios que poderiam identificar algo semelhante – e Kaká talvez tenha mesmo dado uma cotovelada no adversário, segundo as mesmas câmeras. Fato é que nenhum dos dois partiu para a briga física direta muito mais motivados por conta de seus contratos milionários com patrocinadores do que por razões emocionais e racionais. Ambos também sabem que em campo numa Copa as energias estão descontroladas; certamente daqui a algum tempo tudo isso será passado, e jogadores de pátrias diferentes serão colegas em times diversos. É só comprovar isso vendo a foto da campanha da Louis Vuitton com Zidane, Pelé e Maradona, que riem ainda melhor com o cachê que receberam.

Mas vale usar o exemplo dos boleiros na nossa vida? Tenho certeza que em muitos momentos fica impossível controlar tanta emoção e estresse, daí que reações ao estilo Dunga e Kaká podem nos acometer. Se isso acontecer, temos uma vantagem por não ter sido algo filmado, e portanto vale imediatamente após esfriar a cabeça enviar um pedido de desculpas pelo ocorrido – inclusive se você for a parte injustiçadamente afetada, mas depois que entrou na briga fica complicado provar sua inocência, certo?

Erros são possíveis e humanos, mas insistir neles é passar o certificado de ignorância a limpo. Se a pressão estourou e as palavras foram duras, assuma o fato porque muito pior é negar o que aconteceu. Baixe a tensão analisando o quanto isso é realmente importante na sua vida, no seu sistema de prioridades e crenças. Com esta análise ficará muito mais fácil assumir as desculpas diretamente a quem ocorreu – se você for famoso, procure os jornalistas e anuncie seu pedido de desculpas; duas vantagens: sua imagem fica elegante e os colegas de profissão ganham uma pauta legal para comentar sobre ética, por que não? – e saiba que quanto maior o progresso pessoal, maior a pressão. Portanto, vá se acostumando; cuidado para não perder a cabeça e o rumo da sua carreira e vida!

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