Um pinguim, ou seriam anos dourados?


O nome da choperia era familiar. Sempre que alguém comentava sobre Ribeirão Preto vinham os dados estatísticos: cidade grande, metrópole do norte do Estado. Agroindústria. Riqueza. Universidades. Cerveja.

Cerveja. Mas não qualquer uma, era a especial. A cerveja era a do Pinguim, bar que só parecia existir em Ribeirão – descobri que há uma filial em Belo Horizonte, onde mais poderia ser... – e que no meu imaginário tinha muito da malemolência dos bares cariocas, os quais foram responsáveis por boa parte da minha cultura cervejística e do meu conhecimento sobre seus derivados indiretos, os acepipes. Imaginava um bar bacana, tradicional, mas não muito além disso.

Surpresa!!!!

Chegar ao Pinguim implicou em pesquisar qual era o Pinguim ideal para a primeira visita. Explico: há mais de um Pinguim na cidade. O Pinguim do Shopping rivaliza com o Pinguim do Centro. Qual o mais indicado, levando-se em conta as poucas horas que eu tinha para desfrutar dessa visita etílica? Confesso que a decisão veio por conta da comodidade – busquei o mais próximo do aeroporto.

E era o do Centro, que é a matriz (ah, isso agora eu sei!). A vista para quem chegava como eu da praça central parecia bacana, com muita gente nas mesas do lado de fora. Mas preferi entrar e conhecer o interior do bar. Quanta diferença...

Ali parece que o tempo volta ao brilho da metade do século XX. Tudo decorado com metal dourado, mesas de madeira escura, paredes pintadas com detalhes em amarelo, piso brilhando num desenho pomposo. E os garçons variam dos jovens – bem jovens, ar de quem começou a carreira há não mais que cinco anos – aos antigos, verdadeiros pinguins que viram tempos em mutação – como o garçom que me atendeu, com uma carreira quarenta anos que não pretende encerrar tão cedo.

Ele conhece o cardápio, que já mudou diversas vezes, adaptando-se às modas que o tempo traz. Tem acepipes mais light, para quem cuida do visual – o que é paradoxal quando você vê um chope tão dourado que desculpa qualquer desvio de uma dieta – e saladas para os executivos que têm muito dinheiro, mas pouco tempo. Há ainda a coleção de objetos com a marca do bar, desde as bolachas de chope aos quadrinhos para decorar o bar caseiro. Mas o que dali não sai, e creio que jamais sairá, é o brilho das loiras nas tulipas, perfeitas.

A cerveja em chope dourada é perfeita, com espuma na medida, configurando uma loirice invejável. Reza a lenda de Pinguim que tomar chope na caldereta seria desvirtuar a beleza do espetáculo, portanto somente tulipas, finas, são permitidas. O chope loiro, tão leve, é sorvido rapidamente, como uma brisa. Daí que nem cinco minutos se passaram para que eu pedisse um repeteco.

O petisco escolhido foi sugestão do garçom mais jovem, contemporâneo, que anota no papel o pedido, mas sabe que em breve virão palms que irão agilizar ainda mais as coisas – segundo ele, no verão, a casa fica lotada, assim velocidade é tudo. Rapidamente chega à mesa uma porção perfeita, sequinha, de croquetes de picanha acompanhados de uma pimenta que parece queimar a alma. Mas calma, ela só parece, pois é suave e aromatizada, perfeita para completar o pedido.

Ali no Pinguim a tradição permanece na chopeira coberta na parte superior por uma pedra de gelo imensa. Resquícios de um tempo que a eletricidade não dava conta de manter a preciosidade loira no ponto certo? O cardápio informa que há momentos nos quais a agilidade do chope é alterada: quando é preciso trocar o gelo que abastece a chopeira. Seria isso verdade ou somente uma jogada de charme?

Imagino quanta gente viveu histórias de amor, de conquistas, de realizações. Imagino também quem lá foi beber a “fossa” – termo bem démodé, por certo – das derrotas, seja por times, seja por amores, desafios, desatinos. Tenho certeza que as paredes, mesas e mesmo os Pinguins do Pinguim têm muita história pra contar. O meu tempo, nessa ocasião, é curto, portanto deixo a primazia para minha bebida e comida, sabendo que, depois desta, muitas outras virão. Neste Pinguim de maio de 2010, foram somente duas. Quantas irei degustar nos próximos Pinguins da vida?

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