O calor das paixões


Nós humanos adoramos um jogo. Pode ser desde uma singela aposta valendo um Real se a fulana vai ligar ou não – certo Frank? – e a fervida emoção que faz tanta gente rir e chorar quando uma bola rola em campo e onze jogadores driblam, saltam e fazem maravilhas com ela usando os pés.

No quesito bola nos pés é o futebol quem manda no coração de muita gente. O humor amanhece melhor ou pior conforme o resultado do placar. Seu time ganhou? Opa, o sorriso está estampado no rosto! Se foi o contrário ficou um sabor de “quero mais”, por vezes amargo, ardido em excesso, e logo virá outra partida para reanimar.

A paixão por futebol não é exclusividade de brasileiros. Ingleses parecem sofrer e rir muito mais – parece que o futebol está nas veias, daí é que criaram o esporte para todo o mundo aderir – mas até os americanos, que tem seu próprio football, começam a curtir trocar as luvas e ombreiras por chuteiras e meiões. E neste ano estamos pertinho da próxima Copa do Mundo, que vai certamente movimentar muita, muita emoção.

Emoção, em termos de futebol, é quente, calorosa.

Na hora do gol, quando é do seu time, nada combina mais do que um grito e uma exaltação. Curioso é que nos estádios todos do mesmo time se abraçam, beijam, gritam, não importa o grau de suadouro. Se foi o gol do adversário, todos também gritam de tristeza, raiva, xingam quem estiver próximo da responsabilidade do erro – e a mãe, que está bem longe, é lembrada, por que será? – mas todos, sem deixar a peteca cair, continuam dando o sangue na torcida por um resultado melhor.

No calor da paixão do futebol todos se unem. É um espetáculo bonito, que desafia fronteiras.

E há outros jogos que suscitam paixões, sejam eles esportivos ou não. Quando o foco do jogo é uma promoção profissional tão esperada, a hora do resultado equivale a final do mais difícil campeonato. A emoção sai pela boca, mas é contida, pois não estamos num estádio e sim num ambiente asséptico, profissional, corporativo. Mas o sorrisinho no canto da boca teima em explodir na satisfação da vitória conquistada em estratégias, esforço redobrado. Quando o jogo é em vendas, e a negociação traz um gol de placa que colaboradores, empresa e clientes sairão ganhando o sorriso ganha mais realce, o suor que estava gelado fica confortável e todos saem com a sensação de partida encerrada – e vitória auferida!

A paixão continua lá, no universo corporativo, mas disfarçada, com certa fleuma para que ninguém perca o foco do negócio, que é o negócio em si – paradoxalmente, o jogo.

Nas relações sociais também o jogo atua e esquenta a cabeça, o coração e as reações incontroláveis que somente um corpo apaixonado é capaz. A decepção amorosa – o gol perdido no coração de alguém, pode-se dizer – equivale a sair do estádio de cabeça baixa, mãos frias, apatia e sensação de fim de campeonato. Mas a vitória no campo das relações amorosas traz o sentido aquecido das emoções gostosas do porvir, da troca, das próximas jogadas agora entre uma dupla afinada que quer o mesmo resultado no placar – amar intensamente. A emoção desta partida inebria, tira a fome, o cansaço e a descrença, sem falar que ajusta as lentes da vida para uma visão toda colorida, iluminada, como um placar eletrônico de estádio que anuncia a festa.

Precisamos do calor das paixões dos jogos, sejam eles de futebol, de empresa, de relação e de amor. Ganhamos em muitas partidas, empatamos em algumas – e vamos para a disputa dos pênaltis em diversas oportunidades – sem falar nas vitórias e derrotas por pontos, onde ganhamos na partida e perdemos no geral do campeonato... Nossa vida é feita deste tempero, que esquenta e esfria conforme o dia, a oportunidade e o placar. Melhor jogar, emocionar e se envolver, pois é a energia alive and kicking, de quem está vivo. E chutando.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Afinal, é para dizer “saúde” depois do espirro ou não?

Acomodação ou Acomodamento?

Parábolas de gestão empresarial – autor desconhecido