O sabor de O Porto
Numa tarde linda, abençoada por um sol paulistano de outono, eu estava pensando enquanto produzia, imersa entre textos e mailings, contatos, mensagens de texto e seus correlatos comunicacionais, como skype, MSN e o – hoje – clássico e-mail. Olhando o contraste da tela que lutava para sobressair numa sala altamente iluminada pela luz da estação, veio a lembrança em forma de mensagem via facebook.
“Fulaninha convida você para participar do grupo Vinhos do Porto...”
Pronto. O computador perdeu de vez para a luminosidade da memória do Porto, das avenidas apertadinhas no centro e larguíssimas em seu entorno, principalmente nas imediações da avenida Boavista; perdeu também para algo que nunca irá reproduzir, que é o aroma e a textura que existem no ar daquela cidade. E o nocaute ficou por conta do sabor inigualável que um bom Porto tomado no Porto tem.
Já faz um tempo que o evento dessa memória aconteceu, em 2008. Eu me hospedei bem no centro, pertinho do Palácio da Bolsa, junto a uma estação do Andante, que é o metrô dali. Do local onde estava – um ponto estratégico que escolhi por internet justamente pela facilidade do transporte – eu poderia ir caminhando a quase todo lugar. Não demorou mais que um dia para descobrir que estava a alguns passos do rio Douro.
Ali na margem do rio o que não falta é restaurante bom. E do outro lado está o paraíso, representado pela Vila Nova de Gaia, onde se encontram as Caves de Vinho... do Porto.
Recomendo a quem for a esse lugar – ou melhor, a esse sítio – que se prepare emocionalmente para resistir a tanta maravilha junta. O visual é fantástico, o aroma dos vinhos é acentuado pela mistura das madeiras, tanto das caves quanto do mobiliário dentro delas e no espaço exterior a elas – muitos restaurantes têm as mesinhas do lado de fora, principalmente quando há sol, e é confortável ficar ali observando o movimento, pássaros, pessoas calmas e apressadas, sempre com uma surpresa gastronômica à espera.
O vinho do Porto é para mim algo além, e por isso mesmo usufruo dele num ritual de grande prazer. Ele é tomado na temperatura ambiente fresquinha que o Porto tem (não peguei a cidade no alto verão, mas desconfio que não chega aos pés do calor de São Paulo). Não requer companhia, mas fica ótimo com um queijo bem amarelinho ou ainda com o par ideal, o Serra da Estrela. E talvez um pão macio com azeite possa fazer com ele um singelo e contrastante par, pleno de sofisticação. O vinho do Porto fala por si – é só deixar se manifestar a sua expressividade.
Considero difícil alguém se embriagar com vinho do Porto: ele não se deixa sorver impunemente, como uma cerveja, que se toma até sem pensar – vai ver que é por isso que faz espuma, para nos lembrar – e não tem nenhum movimento automático. Vinho do Porto é analógico, rico em sentidos, não se resume ao “zero e um” do mundo digital. Sem contar que, além de todos esses predicados, é barato e extremamente acessível, pelo menos em seu local de origem.
Como toda viajante, num primeiro momento pensei em comprar todos os vinhos do Porto disponíveis; o que não faltava eram marcas que eu desconhecia, e me senti como criança na frente da vitrine de loja de brinquedos. Mas os primeiros goles tomados junto ao Douro me mostraram claramente que iria se tornar um arroubo de paixão e dor de cabeça: como iria transportar garrafas de um lado para o outro? Certamente não iria funcionar, e o próprio vinho não se sentiria confortável com tanto movimento. Poderia até se rebelar, perdendo a aura que, naquele momento, naquele lugar (ou sítio!) ele mostrava a mim, com toda a doçura e sagacidade.
Hoje em São Paulo, numa tarde de sol, quis que o Douro estivesse bem pertinho... para brindar a luz deste dia com aquilo que dizem ter a verdade, que é o vinho. E se isso procede, posso dizer que quero a verdade abrigada naqueles tonéis de madeira imensos, perfumados e lustrosos. Neles deve estar a tal verdade, que atende por Vinho do Porto, e se ela me quiser, posso me juntar ao grupo do Facebook e brindar ao poder inebriante que esta Verdade do Porto me traz...
“Fulaninha convida você para participar do grupo Vinhos do Porto...”
Pronto. O computador perdeu de vez para a luminosidade da memória do Porto, das avenidas apertadinhas no centro e larguíssimas em seu entorno, principalmente nas imediações da avenida Boavista; perdeu também para algo que nunca irá reproduzir, que é o aroma e a textura que existem no ar daquela cidade. E o nocaute ficou por conta do sabor inigualável que um bom Porto tomado no Porto tem.
Já faz um tempo que o evento dessa memória aconteceu, em 2008. Eu me hospedei bem no centro, pertinho do Palácio da Bolsa, junto a uma estação do Andante, que é o metrô dali. Do local onde estava – um ponto estratégico que escolhi por internet justamente pela facilidade do transporte – eu poderia ir caminhando a quase todo lugar. Não demorou mais que um dia para descobrir que estava a alguns passos do rio Douro.
Ali na margem do rio o que não falta é restaurante bom. E do outro lado está o paraíso, representado pela Vila Nova de Gaia, onde se encontram as Caves de Vinho... do Porto.
Recomendo a quem for a esse lugar – ou melhor, a esse sítio – que se prepare emocionalmente para resistir a tanta maravilha junta. O visual é fantástico, o aroma dos vinhos é acentuado pela mistura das madeiras, tanto das caves quanto do mobiliário dentro delas e no espaço exterior a elas – muitos restaurantes têm as mesinhas do lado de fora, principalmente quando há sol, e é confortável ficar ali observando o movimento, pássaros, pessoas calmas e apressadas, sempre com uma surpresa gastronômica à espera.
O vinho do Porto é para mim algo além, e por isso mesmo usufruo dele num ritual de grande prazer. Ele é tomado na temperatura ambiente fresquinha que o Porto tem (não peguei a cidade no alto verão, mas desconfio que não chega aos pés do calor de São Paulo). Não requer companhia, mas fica ótimo com um queijo bem amarelinho ou ainda com o par ideal, o Serra da Estrela. E talvez um pão macio com azeite possa fazer com ele um singelo e contrastante par, pleno de sofisticação. O vinho do Porto fala por si – é só deixar se manifestar a sua expressividade.
Considero difícil alguém se embriagar com vinho do Porto: ele não se deixa sorver impunemente, como uma cerveja, que se toma até sem pensar – vai ver que é por isso que faz espuma, para nos lembrar – e não tem nenhum movimento automático. Vinho do Porto é analógico, rico em sentidos, não se resume ao “zero e um” do mundo digital. Sem contar que, além de todos esses predicados, é barato e extremamente acessível, pelo menos em seu local de origem.
Como toda viajante, num primeiro momento pensei em comprar todos os vinhos do Porto disponíveis; o que não faltava eram marcas que eu desconhecia, e me senti como criança na frente da vitrine de loja de brinquedos. Mas os primeiros goles tomados junto ao Douro me mostraram claramente que iria se tornar um arroubo de paixão e dor de cabeça: como iria transportar garrafas de um lado para o outro? Certamente não iria funcionar, e o próprio vinho não se sentiria confortável com tanto movimento. Poderia até se rebelar, perdendo a aura que, naquele momento, naquele lugar (ou sítio!) ele mostrava a mim, com toda a doçura e sagacidade.
Hoje em São Paulo, numa tarde de sol, quis que o Douro estivesse bem pertinho... para brindar a luz deste dia com aquilo que dizem ter a verdade, que é o vinho. E se isso procede, posso dizer que quero a verdade abrigada naqueles tonéis de madeira imensos, perfumados e lustrosos. Neles deve estar a tal verdade, que atende por Vinho do Porto, e se ela me quiser, posso me juntar ao grupo do Facebook e brindar ao poder inebriante que esta Verdade do Porto me traz...
Comentários