Fica quieta, menina!


Por incrível que pareça, durante a minha infância, ouvi MUITO POUCO esta frase. O que mais escutei foi justamente o oposto, e não por uma posição ultramoderna da minha família, dos meus pais e professores. Nada disso.

Por ter nascido prematura, tive os primeiros anos de vida bem tumultuados. Ia em médico direto, quase toda semana, e quase sempre era um martírio. Sem falar nas sessões semanais de inalação, que credito a elas a minha paciência e tolerância imensas com situações porque quem já passou por inalação sentada numa cadeira por quase vinte minutos entende bem o que eu passei. Daí que sempre tinha alguém que perguntava: “você está bem?” “fala alguma coisa, tá sentindo dor?”. Em algumas situações era muita dor, e detalhe que com dor você fala pouco, não tem muita força para falar, para se movimentar e se queixar. Fechando os olhos e ficando quietinho, bem quietinho, parece que a dor diminui.

Depois entendi que fechar olhos e não dormir, ficar em silêncio e controlar os pensamentos de ansiedade, energia contida e insatisfação são formas de meditação. Meditando, suas sensações tendem ao auge da instabilidade e trazem equilíbrio. Como isso acontecia semanalmente, ou até duas vezes por semana, foi o meu primeiro grande aprendizado meditativo.

Todos sempre perguntavam o que eu achava, pensava e sentia por piedade, carinho e vontade de me ver mais como “os normais”. Bem, a meditação adiantou e muito, bem mais que a inalação, os medicamentos, antibióticos, vitaminas e outras tralhas químicas. Já na segunda infância fui me livrando das doencinhas aos poucos, e falando mais, cada vez mais.

Por falar mais, fiz mais amigos e passei a ouvir direto a frase título deste texto, mas não voltada para mim. Era para quem estava ao meu redor matraqueando, bem do tipo professora para os aluninhos. Eu ainda tinha um pouco do cansaço e muito do sentimento, daí que ao invés de falar, passei a escrever. Por este blog e outras formas de expressão que muito uso, dá para perceber que foi a origem da minha obra.

Hoje, já com meio século de experiência – embora tenha voltado a meditar em bem menos que uma década – percebo que hoje a frase título está muito em moda no tempo “moderno”. Falar hoje, graças a Deus, não depende só de voz. Tem facebook, internet, tem até panela que fala!


Precisamos falar porque podemos falar. Queremos expressar porque não sentimos dor – e não queremos sentir, se é que já sentimos algum dia. Queremos que outros saibam o que sentimos, o que pensamos, o que queremos expressar. Temos tolerância e paciência em alguns casos; devemos falar e usar sempre da tolerância e paciência. Escolhemos falar porque escolhemos viver bem sempre. Com ou sem inalação... mas preferivelmente com os pulmões cheios de fé e felicidade.

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