Um país criativo, mas também inovador?

Muito se fala da criatividade brasileira, que tem um estereótipo popular da “cultura do jeitinho”, que cria condições diferentes para a resolução dos problemas – e neste imaginário nem sempre pelo caminho ético – mas que traz um “final feliz”. Usando esta referência podemos aferir que somos um povo criativo?

No entanto, quando vemos números que apontam o quanto se dispende do PIB brasileiro em pesquisa e desenvolvimento a frase perde o sentido: em 2010 somente 1,16% foi usado neste sentido, e menos de mil patentes foram registradas no mesmo ano. Temos diversas agências de fomento à inovação em todo o país, mas os números apresentados tanto do uso do recurso em pesquisa e desenvolvimento parecem mostrar que a inovação caminha lentamente no país. Então, de onde veio, e para onde vai, toda a propalada criatividade do brasileiro?

Podemos começar a comentar sobre a competitividade brasileira usando como referencial uma distinção de termos do que se entende criar e inovar. Para Schaff, criar é pensar livremente, sem o compromisso com a verdade e realidade, enquanto inovar implica em criar com uma finalidade. Segundo ele, para inovar é preciso que o indivíduo tenha um ponto de partida – problema ou desafio – e busque a saída que melhor atenda à sua necessidade.

Para então inovar é preciso ter uma base, que pode ser entendida culturalmente pela educação formal quanto pela herança cultural. Gilberto Freyre apontava o brasileiro como o colonizado que repete os padrões e se adapta facilmente ao que é pedido. Ora, uma das bases da ciência é a repetição de padrões com um sistema lógico dentro de um determinado ambiente. Neste sentido, temos um povo com vocação cientista, que no pensamento de Freyre age como pretende a ciência.

Ao falar de ciência temos que considerar qual a imagem dela na cultura brasileira: anos de atraso tecnológico devido a protecionismos governamentais puderam ser rapidamente superados devido a esta capacidade brasileira de alta adaptação, como referiram Cardoso e Simonsen, mas o legado cultural da ciência ser algo vindo “de fora”, “do estrangeiro”, de quem tem mais cultura e é colonizador permaneceu no imaginário de cultura brasileira.

O cenário público do Brasil não tem mostrado a ciência como algo viável muito pela sua comunicação que flui do erudito para o público, como cita Vogt, levando pouco ou nada em conta o que o indivíduo pensa sobre ciência – enquanto ele empiricamente pratica todas as premissas científicas criando e inovando em soluções mais diversas sem saber que produz ciência. Produtos de inovação brasileira pouco ganham destaque na imprensa, e quando ocorrem, vem em mecanismos que se restringem a poucos e restritos canais.

Seremos um povo inovador quando a divulgação da informação tecnológica e cientifica vier traduzida para que o individuo comum a entenda, com menor burocracia dos agentes estabelecidos. Por ora, fazemos pouco numericamente. Temos o potencial de inovar a partir de uma estratégica comunicacional capaz de informar e gerar conhecimento, e assim poderemos crescer como uma nação inovadora por entendermos o cenário da ciência.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Afinal, é para dizer “saúde” depois do espirro ou não?

Acomodação ou Acomodamento?

Parábolas de gestão empresarial – autor desconhecido