Seja um bom fiel depositário



Temos uma vida preciosa e infinitamente mais acessível hoje do que foi para nossos antepassados. Vivendo no Brasil isso se torna ainda mais comum – por mais que questionem as mazelas correntes contra a ética e o viver bem, temos no país uma condição muito superior a de diversos países no mundo, principalmente no que tange a um bem que é comum aqui e raro no mundo: água doce. Temos condições melhores de vida para quem agora está nascendo; se fosse perguntado a quem está morrendo se o mundo melhorou a probabilidade de uma resposta positiva seria grande, a despeito logicamente do que faz o indivíduo partir para outro plano. Enfim, vivemos muito melhor agora e com a perspectiva de melhora nos cenários de curto, médio e longo prazos.

Independente dos pensamentos religiosos – que coloco como importantes para entender a lógica da nossa dimensão – o mundo tem passado por progressos que propiciam condição melhor de vida. Há um século não havia medicação capaz de conter males oriundos das condições de higiene medianas, tampouco sistemas de refrigeração capazes de estocar alimentos por mais tempo; o processo do carvão deu lugar a microondas, eletricidade aplicada ao bem estar, comunicação e entretenimento. Novos negócios surgiram e alteram o cenário todos os dias. Literalmente não paramos mais, cada dia traz novidades, mudanças, progressos.

Há quem questione e lembre das chagas sociais que perduram: corrupção, abusos sociais, desrespeitos. No entanto, gosto de salientar que isso depende muito do indivíduo, que nas suas escolhas aceita, acata e mesmo compactua com sistemas que levam a estas mazelas que, sim, mostram o atraso do humano no universo. Até porque somos todos, seguramente, fiéis depositários do mundo, já que tudo deixaremos porque nada efetivamente nos pertence.

Nossa passagem no mundo é uma experiência rica, gratificante, se olharmos para ela mais como “uma grande aventura” e menos como “um grande fardo”. Quando aventura, tão lúdica quanto os jogos infantis, podemos aceitar as paradas, os momentos de espera e o suspense do que está por vir por fazer parte de algo maior que nos leva ao entretenimento. O jogo tem que ter paradas, inseguranças, surpresas – senão deixa de ser jogo e vira protocolo. O divertido do jogo é o inesperado.

Se estamos no mundo para um fardo, posso assegurar que ele tenderá a ficar mais pesado a cada novo dia: serão mais informações, mais pessoas, mais situações que irão mexer com o sistema de crenças que leva a esta conclusão de peso na jornada da vida. O fardo pesado é sem cor, e não tem alças que ajudem a sustentar. Assim pode ser a visão de quem vê a vida como tal – e curiosamente, para quem a vida surpreende com missões complicadíssimas, o fardo costuma nem ser visto, somente percebido e driblado, tal qual um gol feito quando todos os opositores estavam na barreira mas havia a brecha...

Ser um bom fiel depositário implica em muito pouco, daí que gente simples, sem grandes elucubrações, vive bem com o universo e mais usufrui o que confunde. O mundo criado por Deus ou por Outro Que Seja é um pleno exercício de lógica hoje explicada pela ciência quântica. Permite mudanças, é plástico e flexível a ponto de se reinventar diariamente. Daí que viver bem passa a ser mais do que um direito como fiel depositário – e se torna um dever.

Viver bem a vida que nos é confiada implica em simplesmente aproveitar o que ela nos oferece. Pessoas, ambientes, natureza, nossa vontade e habilidade são algumas das ferramentas que farão a aventura, o jogo, mais instigante e divertido – com o detalhe de ser nosso dever na vida. Imagine simplesmente que você seja o fiel depositário de um veículo novinho: seria sua obrigação dele cuidar, zelar e aproveitar que ele está a seu dispor para trilhar estradas conhecendo novos cenários. Senão, por que você estaria com todo este potencial? Seria somente para você reter, se apegar e depois lastimar a perda?

A vida é este carro novinho, com o mecanismo perfeito e capaz de acelerar conforme nossa responsabilidade. Se estivermos conscientes de onde vamos podemos correr um pouco mais nas estradas seguras; se não sabemos o que iremos encontrar na via vamos dirigindo cautelosamente, e à noite redobramos o cuidado – mas não deixamos de fazer o nosso caminho, até porque não sabemos quanto tempo teremos com o carro em nosso poder.

Viver bem implica em dirigir bem o carro da vida, principalmente quando este carro é muito melhor do que todos os que nos antecederam – tem toda uma natureza pronta para ser exercitada na nossa estrada de evolução. Deixar o carro parado na garagem dos sonhos é impedir sua transformação numa viagem inesquecível. Vale ser um fiel depositário que aproveita o que tem pois sabe que tudo, na verdade, está a seu dispor. Sempre.

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