Trânsito

Pois que você já pensou que o preço a pagar por viver numa cidade cosmopolita é esse? Ter trânsito, ter movimento, ter mais carros e pessoas que ocupam espaços que nós consideramos pouco para tanto. Ouvir buzinas, barulho, movimento em ondas é privilégio de viver em locais onde há oportunidades, negócios fervilhando, sem parada. Essa é a musicalidade do local, de onde se está.

Ouço tanto que se queixam de trânsito, o caótico. No entanto me pergunto como foi a escolha das pessoas por determinados lugares para viver. A História Universal aponta que as regiões mais férteis para a agricultura tornaram-se o oásis das civilizações que deram origem a nós. Hoje, com a tecnologia disponível fazemos de qualquer lugar um novo oásis, um ponto novo de partida para o florescimento de uma comunidade. Não dependemos somente de riachos e boa ocorrência de chuvas para viver.

E é aí que chega a questão: por que vivemos em meio ao que nos incomoda – o dito trânsito – e ao invés de nos adaptarmos ao que ele aponta ficamos por queixar, mostrar o problema? Soa insensato, não é?

Por conta disso aponto algumas pequenas coisas para minimizar este estresse que noto estar muito forte entre as pessoas – pedestres, motoristas e o que mais valha.

A primeira coisa é ter consciência que, no trânsito, somos apenas mais um. Daí que se o outro fechar a minha passagem, ou ainda passar no sinal vermelho quase no fim de nossa travessia, não é um ato feito diretamente para prejudicar a nós, nossa personalidade. É um ato errado, sem dúvida, mas relacionado com coisas e posturas equivocadas que nada tem a ver conosco. Se assim é, não há porque remoer a raiva do fato desagradável por mais que cinco segundos.

A segunda aponta um dos maiores erros – que tem levado muita gente boa mais rapidamente para outra dimensão – que é “corrigir” as pessoas em atitudes erradas. Não é a sua profissão orientador de tráfego, ou é? Se sim, parabéns, terás trabalho por muito tempo, pois educação no trânsito está em falta. Mas se não é seu caso, cuidado. Você estará plantando estresse sem necessidade, porque dificilmente sua razão irá mudar o comportamento de quem age errado. O que você pode fazer de concreto é cuidar de si, dos filhos, ensinando e sendo um exemplo de boas práticas.

A terceira é que culpar o tempo (seja em horas ou em temperaturas) por tudo o que nos acontece e atrapalha é insano e prova cabal de falta de amadurecimento. O tempo – seja em graus ou em segundos – é algo disponível para todos, funciona de forma igual para todos, portanto, cabe a você administrar bem este recurso. Choveu inesperadamente? OK, onde está seu guarda-chuva? Vai atrasar ao compromisso? Aproveite que hoje celulares e telefones fixos são acessíveis e baratos para avisar aos envolvidos que vai chegar mais tarde, ou ainda reprogramar o evento. E para evitar problemas de perda de tempo, que tal acordar mais cedo, ou sair mais tarde?

A quarta pressupõe que carros são proporcionais ao que se busca deles. Carros grandes, possantes, gastam mais combustível, custam mais caro e são fabulosos para o que se propõem – seja status, força, capacidade – principalmente quando é esperado deles que tenham esta performance. De nada adianta ter um veículo forte, fabuloso, se você conta tostões na manutenção dele, ou para abastecer de combustível. Se isso acontece, você contribui muito mal com o trânsito, criando problemas porque estes veículos quebram, ficam sem combustível e sem cuidados necessários para funcionar bem. Chega a ser até um egoísmo de quem os tem não dar o devido cuidado. Já viu quanto carro que outrora foi excelente e poderoso, e hoje queima diesel poluindo nosso ambiente?

A quinta é a mais curiosa: reclamamos tanto do trânsito, do excesso de carros, mas usamos o carro para passar três quadras mesmo sem chuva ou sol forte. Seja para ir à padaria, ou mesmo para uma rápida caminhada (a pé), usamos o carro nem que seja por dois minutos (tempo total, desde ligar até estacionar). Poderíamos contribuir duplamente: com o meio ambiente poluindo menos caminhando ao invés de ligar um carro que produz fumaça mesmo nos dois minutos, e ainda com nós mesmos, nosso corpinho, que poderá queimar calorias, estimular o metabolismo com doces passinhos.

A sexta compreende um tema polêmico: o transporte coletivo. Concordo que no Brasil há muito o que se fazer para expandir a oferta de transporte em diversos locais – e as grandes cidades certamente fazem parte desta lista – mas em diversos países do mundo o cenário é tão ruim ou até pior. Se ainda não viu, verá imagens do metrô de Tóquio, Japão, superlotado, mas que em muito lembra o nosso paulistano na linha Leste-Oeste. Obras para expandir e melhorar a malha viária coletiva são sempre bem-vindas, mas o que podemos fazer de imediato é organizar nossos trajetos de modo a minimizar o desgaste da perda de tempo e desconforto no trânsito. Volta a máxima: acordar mais cedo? Sair mais tarde? Você analisa o que melhor irá servir para seu caso.

A sétima aponta a atual briga entre motociclistas e motoristas. Até algum tempo atrás a briga mais comum era dita entre motoristas e pedestres, mas isso, ao que noto, chegou a um ponto de “equilíbrio” no qual motorista tem medo de pedestre cair na frente do veículo, pois isso dá até linchamento. Mas no caso dos motociclistas e pedestres ocorrem cenas de violência e revanchismo de alta periculosidade. Vale lembrar: todos são pessoas, que tem suas razões e vontades; no entanto, a razão de um não pode prevalecer sobre a razão do outro, mas é possível coadunar as razões e viver em harmonia. Questiona-se conduzir motocicletas em meio aos carros, o que já acontece há tempos. O que falta, em meu entendimento, é mais consciência do que se faz no trânsito.

A oitava acompanha a anterior, pois a falta de consciência aparece também nos doces recursos que desviam atenção e até relaxam o cotidiano de quem circula pela cidade, como o som alto, os DVDs – acredite que há quem consiga dirigir e assistir ao DVD ao mesmo tempo – e o fatídico telefone celular. OK, tudo isso custou caro e até valorizou seu carro e seu passe. Mas podemos usar destes recursos para nosso bem estar de forma inteligente. O celular foi concebido para conversas curtas, e a etiqueta aprova dizer ao interlocutor que se está dirigindo e não poderá dar a atenção devida, ficando o contato para mais tarde; o som do rádio auxilia no trânsito com opções, mas não pode suplantar o grau de atenção requerido para o dirigir com segurança. Quanto ao celular: lembre-se que houve tempo quando não existia e você dirigia por aí tranquilamente...

Existem muitas outras possibilidades para refletir sobre o trânsito, mas o que gosto de ressaltar, além destas opções de viver bem, é um fato a lembrar: vivemos no melhor dos mundos, com a máxima facilidade ao alcance de muitas pessoas. Temos acesso ao que á de mais moderno em tecnologia, e os recursos não param de inovar. O que muito falta no homem contemporâneo é o uso inteligente dos recursos, seja para ser mais rápido, ou seja para ser mais bem sucedido. Falta cortesia, atenção, o colocar-se no lugar do outro até por egoísmo, o compreender que muitos juntos podem fazer mais, mas o indivíduo pode fazer muito com sua mente e postura em busca da melhoria contínua. A partir destas premissas, o trânsito pode ser tornar até mesmo instigante, fazendo refletir e crescer como pessoa em meio a tantas outras, iguais a você.

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