A sonoridade saborosa da cidade


Nem está claro o suficiente para ser dia nem escuro a ponto de se dizer que ainda é noite. Mas dá pra ver que as nuvens abriram espaço para que muitas estrelas brilhassem até quase as 6 da manhã – um prenúncio de dia ensolarado e lindo. Emoldurado pelo recorte da serra que limita parcialmente a cidade.

O som da cidade aponta o ritmo do seu amanhecer. Não precisa ser muito alto, já que imperou o silencio durante horas. Um ônibus freia lentamente, porque não há trânsito nem pressa. Os carros passam, luzes acesas deixam a pista mais colorida, num contraste curioso entre dia e noite. Pouca gente caminha, embora já sejam quase 6h30.

Depois, o metrô está cheio, muito cheio. As pessoas já sabem os truques para lidar com o transporte público: chegam cedo a ponto de pegar o trem na direção contrária e assim garantir um lugar quando ele retornar ao rumo certo. Há quem leia, quem ouça música para si mesmo e para os outros. Há quem sorria e se divirta, outros estão ainda dormindo, mesmo de pé.

A cidade desperta de forma gradual – em certos pontos ela acordou de madrugada mesmo, se é que 4 horas da manhã mudou de denominação e se tornou manhã. Em outros pontos, o ritmo só se nota quando o sol está a pino, reminiscências de uma noite colorida. O som da cidade oscila entre o silencioso e o volumoso – pelo volume silencioso das passadas das pessoas.

A cidade sempre está pronta para os que acordam e vêm para ela, bem como para quem dorme em seus braços. Não há por que ser diferente, já que seu colorido e sabor são dados pelo tempero de cada um dos habitantes – vindos de toda direção, inclusive de cima a baixo. Cada um tem seu ritmo e rumo, formando um quilt bem colorido de gente e energia, exclusivo dessa metrópole.

Amiga acolhedora, a cidade emana a fumaça mesclada de poluentes e aroma de café. Tem pontos de água empoçada que podem tanto fazer escorregar quanto fazer deslizar o boy que coreografa seus passos na via. Todos têm espaço, e ali deixam seu um para ser um todo, maior que cada um e que faz a diferença neste dia, e em todos os dias.

A cidade é a amiga, que acolhe, colore, perfuma e alegra cada dia – como hoje, dia do amigo, da amiga, da pessoa e da história, que só ela consegue ser.

Minha cidade.

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