Rápido pra perder o costume...

Se eu fizesse uma pesquisa informal sobre o quanto as pessoas estão com pressa, sabe o que iria acontecer? Nada, pois eu não conseguiria parar alguém que pudesse me dedicar uns dois minutos de conversa. Vi isso hoje cedo observando uma senhora que estava procurando pessoas para responder a uma pesquisa de consumo – eu não posso responder a este tipo de coisas por ética profissional, afinal sou publicitária – e ela me abordou, quase implorando para que eu parasse.

Eu parei, mas logo adiantei que não poderia ser entrevistada por ser publicitária. O rosto da pesquisadora mudou do sorriso para a lástima. Ela até tentou perguntando se eu realmente trabalhava em agência... e confirmei. Não tinha como escapar.

Mas eu poderia fazer perguntas e a primeira foi “quantas pessoas você já entrevistou hoje”, sendo que até então ela não tinha preenchido um formulário sequer. A hora da pergunta: 11h25. Segunda pergunta: “há quanto tempo você está aqui abordando pessoas” teve como resposta “mais de uma hora”.

Depois disso voltei para a minha rotina e ela para a tarefa de recrutar quem pudesse – e quisesse – ser entrevistado. Comecei a pensar sobre o fato que muita gente gostaria de dizer o que pensa, o que sente sobre determinado tipo de produto ou serviço. No entanto, esta vontade colide com o tempo disponível para sair da rotina, conversar com um estranho e depois voltar ao que estava fazendo com total naturalidade.

Durante o dia continuei de olho nas pessoas, mas focando no tempo de cada uma. No período da tarde visitei uma loja de shopping, e ali me dei ao luxo de andar calmamente. Reparei que eu era a mais lerda caminhante, todos passavam apressados, exceto quando paravam para ver a vitrine ou entrar numa loja. Passos rápidos, olhar no vazio. Segunda-feira à tarde num centro de compras importante da cidade e as pessoas passam ágeis, velozes. No estacionamento, o ritmo permanece acelerado, e a disputa por vagas chega a ser cômica. Quando cheguei estava até que bem fácil, mas na minha saída vi que dois carros estavam na disputa por um lugar, literalmente, ao sol.

O tempo já marcava mais que o meio da tarde, e a pressa das pessoas continuava. Posso dizer que até aumentou, será que é porque o fim do expediente clássico se aproxima? Talvez. Perto de casa a escola está no recesso de férias e assim o tráfego tem fluido bem. Mas os carros entram na rua a toda velocidade, que se torna um perigo por ser uma via muito mais residencial do que comercial. Será pressa para chegar em casa?

É curioso notar uma coisa: se eu perguntasse a amigos sobre as atividades prazerosas que fazem em seu dia a dia – tanto as rotineiras quanto as eventuais – percebo que todos responderiam sobre o pouco tempo que tem para elas. Digo isso porque já tive pouco tempo para as coisas que fazia simplesmente por gostar, e priorizava a corrida contra o tempo no afâ de resolver os problemas do mundo – meus, seus, nossos e dos outros incluídos. Foi preciso sentir no corpo o que a pressa faz para desacelerar, tanto no que é trabalho quanto com o que é diversão.

Com o costume, o tempo passou de competidor a acompanhador. Mudamos nossos referenciais para que nossa relação fluísse mais e melhor. Não aumentamos nossa duração, impossível. Mas fizemos mais com menos, usamos melhor sua referência. Sem postergar e mesmo sem a pressa. Perdendo o costume velho de lutar contra o tempo e trazendo um novo costume de se aliar ao tempo inteligentemente.

Seja rápido, perca o costume.

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