24 Horas

Parece tão óbvio, mas se fosse eu não atenderia tanta gente com a mesma queixa: "meu tempo não rende", "sou refém do tempo dos outros", e a mais popular "se eu tivesse uma horinha a mais você nem imagina como ia resolver o meu problema...". Óbvio é que temos 24 horas. Não há banco ou instituição fornecedora de tempo excedente, ou mesmo para antecipação, postergação de tempo. Todos temos o mesmo tempo.

Como todos temos o mesmo tempo, precisamos saber bem o que fazer com ele. Daí vem o segundo aspecto óbvio, este mais controverso: o tempo é a resultante das suas escolhas. Mas mal acabo a frase e vem a réplica: "só se for para você, porque pra mim o tempo que eu tenho é mais dos outros do que meu, então não tive escolha...".

Sempre temos escolha, inclusive a de aceitar passivamente o que escolheram para nós...

O uso do tempo tem sido um dos principais conceitos discutidos no mundo contemporâneo, e muito das novas teorias de produtividade, 5S, fazer mais com menos tem a base sobre o uso do recurso tempo. Portanto, nada mais natural que discutamos o quanto desperdiçamos de tempo e mesmo outros recursos; por ora, fiquemos com o tempo, somente.

Sei que muita gente gosta de ler blogs porque há sempre uma dica preciosa ou fórmula dita mágica. Aqui vai uma para o tempo: pense primeiro antes de agir, mesmo que seja a ação da inação, do não fazer nada.

Mesmo que seu horário esteja estourado, o prazo dilatado, pense antes. Analise o que será feito, porque - só para lembrar - o tempo passa, e não volta. Evite retrabalho.

Minha experiência mostra quantas pessoas, empresas, instituições tem desperdiçado seu precioso tempo com retrabalho, fazer para depois refazer. Em boa parte dos casos o refazer custa bem mais caro do que teria sido o custo do planejamento e pesquisa antes de "sair fazendo".

A outra dica é: cuidado com a pressa, principalmente a dos outros.

Vejo gente assoberbada de trabalho e outras coisas na mente, pensando no prazo do outro. E quando vemos o outro, ele está lá tranquilo, somente observando o que lhe interessa, sem ao menos imaginar que alguém está perdendo o sono e a paz inutilmente. O tempo de cada um de nós é nosso e oriundo das nossas escolhas. Não atribua esta responsabilidade aos outros, nem delegue seu destino diário em segundos à vontade de terceiros.

A dica de pensar primeiro faz com que possamos refletir sobre a pressa dos outros. Por que não nos pediram com tempo suficiente? Por que nós, agora, temos de mover céus e terras por conta do atraso alheio? Será que o estresse da ação poderá interferir na ação propriamente dita? E tudo isso vale mais do que nossa paz?

A terceira (sempre uma tríade, para funcionar bem) é aproveitar intensamente o momento presente, o segundo que passa por você e não voltará mais.

No afã do dia a dia esquecemos do dia que vivemos, pensamos no passado ou ainda no que virá, no futuro. Perfeito, são momentos dignos de nota; mas não pensar que tudo o que será real no futuro começa no AGORA é querer milagres inoperáveis. Hoje plantamos o que iremos colher num futuro muito próximo. A criança que pega a caneta pela primeira vez não sabe que lá na frente terá de escolher uma carreira, um carro para dirigir, uma empresa para trabalhar... ela pensa na alegria de pegar a caneta, sentir a textura e apreciar a cor da tinta. Ela irá esquecer este momento, mas que importa? Ela irá lembrar sim da satisfação que foi começar a escrever, interagir com o mundo. Esta é uma emoção clara do momento presente.

Lembre-se sempre que as 24 horas permanecerão as mesmas dia após dia. Mas o seu uso do tempo pode mudar conforme sua vontade. Parece difícil? Vá treinando usar melhor o tempo empregando o divino que todos temos, a nossa consciência, o uso racional dela. Aos poucos, você voltará a ter o tempo sob seu domínio, como o foi quando na infância o melhor a fazer era simplesmente aproveitar o momento - este sim, nosso verdadeiro presente.