Destroços e matéria

Cada dia mais partes, corpos e peças do Airbus que caiu na semana passada próximo ao arquipélago de Fernando de Noronha tem sido resgatados. O fato é que desde o primeiro pedaço confirmado todo o movimento esperançoso por um milagre deixou de existir. Sem muita dificuldade ficou claro que não houve sobreviventes.

Como o acidente aconteceu é algo que irá ser descoberto com o tempo, investigações, testes e tudo o mais. No entanto, o que sentiram as pessoas que se foram é bem mais complicado. Não há dúvida que os minutos que antecederam o acidente foram puro horror.

E para quem perdeu uma pessoa querida no acidente, fica um misto de alívio e tristeza, profundos. É terrível perder alguém querido, seja uma pessoa, um animal – pois são vida, que expressa em si tanta emoção por existir. Mas é fundamental, para quem perde, saber o que aconteceu, para não ficar com aquela dura e cáustica sensação de vazio.

Humanos como nós precisam de provas, ver o corpo, ver o fim. Ver as peças da aeronave ajudam a digerir o processo mas são pouco perto do reconhecimento do corpo, aí sim o fim. Doloridíssimo, mas é o fim mesmo. Dali a vida chora, mas segue em frente, e graças a volatilidade da memória cria condições para renascer, replanejar.

Cada peça achada revela um pouco da história, e talvez essa seja a função primordial das peças terem aparecido rapidamente: aliviar a dor de quem espera qualquer notícia. A dúvida, por vezes, dói muito mais do que a constatação da perda. Fica o sentimento de “e se...”, que consome por demais.

O enigma – como tudo aconteceu – será desvendado, será uma questão de tempo, somente. A dúvida foi dissipada, e aos poucos – também uma questão de tempo, conforme para cada um – abrirá espaço para o novo, para continuar a caminhada. Para renascer sem dúvidas; a saudade vai ficar, como uma doce lembrança. Triste lembrança certamente, mas será lembrança.

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