Vale Tudo
Mas é bacana rever e notar as mudanças que a história agora mostra, e em todos os sentidos. Ver o valor do dinheiro diferente – era tempo de inflação galopante – e ver o personagem do Antonio Fagundes suplicar por um emprego de operador de telex (!!!). A casa sofisticada no Leblon que pertence ao gigolô Cesar tem carpetes por todo lado, e com direito a uma banheira de hidromassagem no meio da sala (ou seria um quarto?). Ah, os personagens fumam, e muito. Chega a ser engraçado ver tanta gente fingindo naturalidade fumando.
A Paula Lavigne – hoje empresária, produtora de cinema e tudo menos atriz – esta lá como uma adolescente que gosta dos bolos de chocolate da Raquel, personagem da Regina Duarte e que irá simbolizar o trunfo do bem sobre o mal. Os rostos dos atores e atrizes, em sua maioria, são redondos, sem a hegemonia da magreza e da necessidade de fotografar com milhões de pixels. O rosto de Regina, como exemplo, é um primor de equilíbrio natural, sem botox, com linhas firmes e moldadas que refletem a beleza dela e sua expressividade; enfim, está linda. As roupas são balones, larguinhas. E a camisa dos homens tem os outrora moderníssimos botões na gola, altamente sofisticadas, né?
O cabelo vermelho da Lidia Brondi, que é uma jornalista descolada, contempla uma franjinha colada na testa – um sinal de modernidade incrível na época. Ela é culta e inteligente, mas não tem a malícia de perceber as maldades de Maria de Fátima – que irá roubar o namorado, tirar dela o emprego e o que mais estiver ao alcance – e fará a caridade de apresentar ao mundo o Marcos Palmeira, que surge na história como um fotógrafo todo amoroso para o lado da ruivinha jornalista. Espere mais uns capítulos para ver que beleza!
As imagens têm o charme do enquadramento da época – do maior para o menor, enfocando a cena toda e gradualmente fechando no rosto do personagem – e o caráter rudimentar do tratamento de imagem traz a lembrança das televisões de tubo, das fitas de videocassete, mostrando o que era o auge da modernidade tecnológica. A trilha sonora é uma preciosidade, assinada pelos balanços de Lincoln Olivetti e seu reinado de saxofones sintetizados.
Com tudo isso, faço agora minha hora de almoço virar coisa sagrada porque não quero perder um só capítulo desta história que tem sabor de coisa antiga, mas extremamente familiar. Por dever de oficio, posso também justificar que assistir a Vale Tudo equivale a uma aula de como fazer televisão, já que apela muito mais para os atores e a trama do que para elementos mercadológicos.
Em resumo, do meio dia à uma da tarde pode esquecer de me procurar porque vou fazer a paradinha para a novelinha!
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