Janelas
Vejo
o prédio na minha frente, noite fechada que destaca as luzes das
casas onde há gente. Sim, pode ser que alguns estejam no escuro,
numa penumbra… mas com esses eu deixo a sua imaginação vaguear.
Numa
das janelas iluminadas – que são muitas, muitas – há um casal
vendo TV na sala. No mesmo apartamento a janela do lado mostra a
menina dançando ballet, com um cãozinho acompanhando entre pulos e
saltitos. O casal vê TV, a menina saltita, bailando docemente. É
apenas uma das janelas que eu vejo, junto com a outra, ambas
iluminadas.
Mais
janelas vão se destacando na minha paisagem, outra com a moça que
lê. Outra com gente conversando, não dá para saber se são homens
ou mulheres, apenas gente. Muitos, movimentando. Forma um desenho
extremamente instigante junto com a cor das luzes – algumas
amarelas (ah, destas eu gosto!), outras brancas frias (não, não
gosto, parece padaria), paredes que refletem as cores que as luzes
destacam. Tem cortina na sala, na janela em algumas, outras são
nuas.
Mais
luzes, mais janelas, mais pessoas…
As
janelas permanecem iluminadas, umas mais, outras chegam a brilhar.
Dizem que agora não se tem medo do escuro, afinal a luz está cara…
Medo da luz, que ilumina os fins de túnel, as janelas dos
apartamentos, a rua que divide iluminação com as estrelas, tantas,
tantas, mas escondidas por conta da sujeira que o ar carrega. Aqui
ainda tem menos sujeira, dizem que é mais limpo o ar pela
Cantareira. Bem, eu gosto deste ar, que chega a purificar meus
pensamentos.
Noite ainda de lua nova, que ontem mostrava no céu de São Caetano um risquinho que prenuncia seu aumento gradativo, até chegar na segunda-feira em momento crescente. Dia gostosamente frio, como são lindos estes dias pseudogeladinhos!
Minha janela agora é que brilha. Acendi as luzes para me destacar também, afinal a sala é bela, a vista é gloriosa. Luzes acesas para receber os convidados que se convidam, neste caso as amigas e amigos que sabem ser sempre bem-vindos. Eles e eu vão virar o jogo do observador: nós é que vamos ser vistos pelos outros que bailam nas janelas à minha frente. Alguéns que irão pensar o que aquelas pessoas todas falam, expressam numa noite de sexta-feira de Oxalá dourado ou prata. Elas riem, gargalham, bebem e comem. Trocam ideias e ideais, como quem troca figurinhas de banca, trocam os gibis que já leram. Será que trocam confidências? Ah, trocaram abraços, que legal!
Mais tempo passa. Rimos, olhamos da janela as outras janelas, inventamos histórias, enredos e desfechos. Colorimos a imaginação de quem nos vê. Somos, estamos e fazemos. Sim, é noite, e é nossa.
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