Um dia desses...
Com certeza essa semana alguém chegou para você e disse
estas três palavrinhas meio que para encerrar uma conversa. “um dia desses eu
te ligo...”, “um dia desses vamos tomar um café...”, “uma hora dessas vamos
almoçar, blá, blá...”e outras variações que incluem desde passar na sua casa,
bolar uma viagem maravilhosa, te cumprimentar pelo seu aniversário que ela
propositalmente esqueceu (esquecimento é o inconsciente atuando
maravilhosamente bem), te contar as novidades do trabalho, novos projetos. É a
frase campeã do cotidiano e vende ilusões em boa parte dos casos. Sim, há quem
diga isso e acabe definindo, decidindo na prática o quê, quando, como e porquê.
Quem faz isso é assertivo.
A assertividade é algo que assusta o ser humano. Ser
assertivo significa ter o compromisso, eita palavrinha assustadora! Ter o
compromisso, ter de cumprir o que foi dito, que não será esquecido, aliás nada
é esquecido porque as palavras tem energia que fica no ambiente e no universo.
Daí o porquê de zelas pelas palavras, o conceito hebraico de Lashom Hará,
principalmente no que diz respeito a expressar o que não se quer.
Dizer claramente, ser transparente é algo que implica em
confiança. Esta confiança requer uma força interna bem grande, que vem do espírito,
da centelha divina que todos tem, mas nem todos usam, ao menos conscientemente.
Daí que por viver dentro de uma matrix onde sentir é pouco incentivado e o
pensamento obsessivo valorizado, deixamos de sentir a força e passamos a pensar
sobre ela, correr atrás, como se pudéssemos comprar, adquirir, sequestrar a
força para conosco.
Curiosamente, com nossos afetos mais sinceros e precisos (em
ambos sentidos), acabamos nos importando menos em cumprir as promessas. Talvez
seja porque estes afetos de certa forma tem comiseração maior, tolerância maior
e capacidade de perdoar as falhas nossas, quase sempre propositais. Tem a ver
com o fato de nossa cultura elogiar pouco e criticar muito. Prometer é uma
forma assertiva de elogiar, notar a diferença, fazer o destino colaborar.
No entanto, o uso mais nefasto da frase é quando voltamos
para nós mesmos. “Um dia desses vou conhecer o mar...” e o tempo passa, passa... O sonho fica para
depois, tão precioso e tão querido mas como é uma realização do coração, pode
esperar. Há quem sente e espere indefinidamente, infinitamente principalmente
quando se trata do próprio sonho. É a sabotagem mais dura, complicada de ser
eliminada, a sabotagem pessoal.
Levar a sério a si mesmo, ter valorização por si antes de
qualquer outra coisa é algo pouco ensinado e pouco visto. “Pense nos outros
primeiro” é uma premissa linda, e totalmente funcional quando desejamos aos
outros o mesmo que desejaríamos a nós mesmos. Daí que o que faço para o outro
faço para mim TAMBÉM. Eu amo o outro, e portanto amo a mim. Simples assim. Não!
Olhar para o outro e pensar no outro implica em afeto – e nossa cultura bagunça
tudo, junta afeto com atenção e dá-lhe crítica, opinião, palpite, pitaco e
qualquer outra coisa sobre o outro “na intenção de amar”...
(não foi minha intenção, eu só queria ajudar...)
Para ser assertiva, troque o “um dia desses...” de muitas
musiquinhas melosas por uma pegada direta da Mc Ludmilla e faça o dia desses
ser HOJE.
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